Nos países desenvolvidos tem sido verificado um aumento da prevalência de doenças alérgicas na infância e adolescência.
Ao longo do século XX, a industrialização, o desenvolvimento das redes de transporte e a
introdução de novos alimentos na dieta tradicional foram apenas alguns dos elementos que
contribuíram para um aumento das reações alérgicas.
A imunoalergologia surge neste contexto como o ramo do conhecimento médico que visa, por um lado, estudar as reações de imunidade orgânica (em especial as relações entre antigénios e anticorpos) e tudo o que com ela se relacione e, por outro lado, estudar as doenças e comportamentos alérgicos, ou seja, a capacidade de reação do organismo aos níveis respiratório, nervoso ou cutâneo quando certos agentes químicos ou biológicos são absorvidos (mesmo que em quantidades reduzidas), manifestando uma especial sensibilidade do organismo.
Dentro da imunoalergologia, a Imunoalergologia Pediátrica é uma área de subespecialização que se concentra na prevenção e tratamento deste tipo de doenças ou reações com carácter alérgico em crianças e jovens até aos 18 anos. Por esta razão, as consultas que lidam mais diretamente com esta temática são realizadas normalmente por médicos com experiência no acompanhamento infantil. Tal como na “especialidade mãe”, também a imunoalergologia pediátrica subdivide-se nas componentes de imunologia e alergologia.
Imunologia pediátrica
A imunologia pediátrica está tradicionalmente associada à vacinação (ou imunização) infantil, tanto no âmbito do Programa Nacional de Vacinação (PNV), como fora do mesmo.
Neste contexto, os pais deparam-se frequentemente com algumas questões às quais
procuramos hoje responder:
Quais as vacinas que constituem o PNV e quando devem ser tomadas?
Quem prescreve estas vacinas e onde são administradas?
Não é necessária prescrição para as vacinas que constam do PNV.
Os pais devem levar as crianças ao Centro de Saúde ou Unidade de Saúde Familiar da área de residência, fazendo-se acompanhar do Boletim de Vacinas. Aí serão atendidos por um membro da equipa de enfermagem. O enfermeiro verifica os dados registados no Boletim e administra a vacina estabelecida para a idade da criança.
As vacinas que constam do PNV são gratuitas.
Há contraindicações para a vacinação?
Sim. As vacinas não devem ser administradas caso a criança / adolescente apresente:
Febre superior a 38o C;
Reação alérgica grave em dose anterior da mesma vacina;
Reação alérgica grave a um dos componentes presentes na vacina;
Imunodepressão (não se aplica a todas as vacinas);
Situação de gravidez.
Alergologia pediátrica
A alergologia pediátrica, por seu lado, visa a prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças provocadas por alergias em crianças e jovens até aos 18 anos. São exemplos destas doenças o eczema atópico, a rinite alérgica e a asma.
A identificação de problemas do foro alergológico nem sempre é fácil para os pais e, muitas
vezes, os sintomas apresentados num episódio alérgico podem ser mal interpretados e levar
ao retardamento da visita ao médico.
Fatores de risco
Existem alguns elementos com maior propensão para despoletar um mero desconforto físico ou mesmo fortes reações alérgicas (mais raramente).
Alguns dos elementos alergénicos mais conhecidos ocorrem naturalmente em alimentos como o marisco, frutos secos, ovos, cereais, leite, entre outros.
Neste contexto, há quem refira que os testes de intolerância alimentar (uma análise específica realizada ao sangue) podem ajudar a identificar alimentos com maior probabilidade de gerar intolerância ou reação alérgica. Contudo, ainda está por comprovar que uma dieta ajustada exclusivamente em função dos resultados destes testes produza um benefício direto e inequívoco para o quadro alergológico de uma criança ou adulto.
Assim, a decisão de realizar um destes testes e a apreciação dos seus resultados devem ser
sempre consideradas ponderadamente com o apoio e esclarecimento de um médico.
Os animais domésticos com pelo ou penas (normalmente cães, gatos, aves e roedores)
também são conhecidos por desencadear reações adversas tais como crises esternutatórias
(«espirros»), o chamado “pingo no nariz” ou mesmo prurido e lesões na pele e no rosto. As
famílias com crianças pequenas devem ter especial atenção à higienização e arejamento da
casa sempre que um animal doméstico conviva no mesmo espaço. Pelos, pó, parasitas e
algumas bactérias são facilmente transportados para o interior das habitações,
transformando-as num ambiente propício ao desenvolvimento de alergias.
A sazonalidade é igualmente um fator de importância nas doenças do foro alérgico
respiratório. Primavera, verão e outono são estações do ano em que se regista uma grande
quantidade de pólenes e poeiras a circular na atmosfera. A esta poluição “natural” soma-se a poluição gerada pela indústria e pelos veículos.
Procedimento médico
Quando na presença de um quadro de alergia, o médico assistente procura avaliar os
sintomas, a sua frequência e tenta identificar a causa provável para um determinado episódio alérgico. Quando necessário, o médico pode ainda sugerir o encaminhamento da criança para uma outra especialidade médica, tal como Otorrinolaringologia ou Pneumologia Pediátrica, de forma a confirmar um diagnóstico ou a promover uma melhoria do quadro clínico.
O tratamento de primeira linha para as crises alérgicas passa, muitas vezes, pela administração de anti histamínicos, os quais aliviam a sintomatologia, embora possam frequentemente gerar sonolência. Este resultado adverso pode produzir um impacto negativo transitório no rendimento escolar e no estado anímico global.
Contudo, existem atualmente anti histamínicos em que este efeito, embora ainda presente, se encontra bastante mais atenuado. Não obstante, a sua utilização deve sempre depender de aconselhamento e prescrição pelo médico assistente, tendo em atenção a idade, o peso e os antecedentes específicos de cada criança.
Prevenção
Face a esta informação, não é por isso de estranhar que muitos especialistas acreditem que a tónica do debate deva ser colocada na prevenção dos quadros clínicos motivados por alergia.
Existem atualmente diversos testes e vacinas capazes de, respetivamente, identificar e
prevenir certas reações alérgicas, sendo inclusivamente propostos como métodos de rastreio por reputadas sociedades científicas nacionais e estrangeiras com atuação no âmbito da saúde infantil.
Contudo, a efetiva utilidade destes métodos preventivos em idade escolar é ainda tema de
debate na comunidade médica. De facto, as evidências na literatura científica são ainda
escassas e pouco expressivas, facto que leva muitos clínicos a defender a utilização destes
métodos apenas quando a situação específica da criança o exija e não como prática de rotina.
Se tem dúvidas quanto a questões de imunologia ou de alergologia na infância e adolescência, consulte o seu médico de família, pediatra ou alergologista. Por terem acompanhado e conhecerem a sua criança ao longo do tempo, estes são os profissionais de saúde nas melhores condições para ajudar e informar.
Autor:
Dra. Maria Teresa Silva
Médica Especialista
Formação Avançada em Alergologia Pediátrica pela Universidade Católica Portuguesa.
Mestrado em Dermatologia Pediátrica pela Universidade Cardenal Herrera
Diploma em Cuidados Paliativos pela Harvard Medical School
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